Um mês volvido após a quinta edição de Festival Forte, chegou a altura de refletir sobre os quatro dias de pura rave.

Subir Montemor-o-Velho em direção ao castelo da vila na primeira noite, acompanhados por dezenas de pessoas, provocou reminiscência. Mesmo sabendo que estávamos prestes a voltar a pisar aquela mítica pista. Depois de passar a entrada, deparamo-nos com muralhas que envolvem, jardins que nos aturam, e até a igreja de Santa Maria da Alcáçova em direção ao palco. Antes do espetáculo de abertura, houve tempo para carregar cartões, ir buscar bebidas, enfim, acomodar o corpo em jeito de preparação.
Pantha Du Prince e o Bendik HK subiram a palco pouco depois da hora marcada. Num ambiente sereno, os presentes ficaram altamente focados no alemão, responsável pelo lado eletrónico do espetáculo, e no baterista norueguês, que não parou de suar dada a intensidade que investia nas baquetas. A percorrer estilos e ideologias, o concerto chegou a um ponto incrivelmente melódico, provocando ainda mais os olhos e ouvidos atentos do público.
Pouco depois da meia-noite, chegou a vez de Electric Indigo, austríaca que trouxe um lado mais clubbing ao recinto, marcando o passo da rave que se viria a viver nessa e nas outras noites – não na mesma escala, ainda assim. Em certa medida, tudo acalmou com Robert Henke, um dos responsáveis pela criação do Ableton, que levou o seu live surround até Montemor-o-Velho. À hora em causa, perto das 2h, a maioria já pouco se importava com detalhes técnicos, mas é certo que, mesmo inconscientemente, os cérebros eram equilibrados numa viagem entre pólos conduzida por Monolake, que ia unindo sonoridades profundas para estímulo das nossas sinapses.
Depois de Henke, no entanto, é impossível não afirmar que foi aí que a verdadeira festa começou para a maioria. Afinal, repleto de maquinaria, Stanislav Tolkachev atuou durante uma hora em formato live, que é, só por si, destruidor. A sonoridade de Stanislav já é suficientemente avassaladora, e ninguém se queixou – ainda que se ouvissem alguns berros, eram em sinal de excitação e ebriez – durante a intensa e bela hora de Tolkachev. O próprio Umwelt, que entrou depois, mostrou apreço pela sonoridade do ucraniano ao selecionar, ao longo do set, a absurda Yes, Today.
E não se pode dizer menos do francês. É certo que o espanhol Oscar Mulero, responsável por fechar a primeira noite no castelo a partir das 6h, também é e foi mestre, cumprindo a missão como poucos – o habitual do fundador da Pole Group. Mas a abrangência de Umwelt marcou a noite, sendo possivelmente o dj mais notável de quinta-feira, viajando, com grande técnica, por entre sonoridades e bpm relativamente díspares ao longo das duas intensas horas de set.

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