PUBLICO | Jun 8,2018 | PT
“O mundo da noite e da música electrónica é um boys club” — onde ela irrompeu sem pedir licença. Carolina Mimoso, a DJ e produtora Caroline Lethô, 26 anos “acabados de fazer”, está encostada num dos bancos do Passos Manuel, no Porto, bar que pôs a suar na noite anterior à conversa que aqui se ouve e vê. Fala devagar, a mordiscar o fio que traz ao pescoço, um mecanismo que a ajuda a pensar no que vai dizer a seguir.
“Não sei qual é a razão, mas tens sempre mais homens que mulheres nos clubs”, continua. E há outra coisa: “As pessoas ainda têm aquela mentalidade de que vão sair à noite para engatar alguém.” E ela, que mesmo sem ser em trabalho também sai “imenso”, vai a “muitas festas” e adora a sensação de “dançar num sítio escuro, cheio de fumo e luzes”, lá tem de lhes dizer: “Olha, não. Vai-te embora, eu estou aqui para dançar.” Ou, noutras noites, para fazer dançar.
Como vai acontecer no palco Bits do NOS Primavera Sound, às 23h deste sábado, 9 de Junho. “Assim uma coisa gigante para o meu tamanho como DJ.” Não se deixa assustar. “Isto é uma paixão que eu tenho e que faço mesmo porque gosto muito”, confessa, “e se me deixar levar pela pressão, deixa de ser paixão e passar a ser algo com que eu não vou conseguir lidar”.
Até agora, tudo controlado: pratica no Plano B, onde é DJ residente desde Fevereiro do ano passado, na Gigi, conhecida festa da noite do Porto. “O primeiro trabalho que me permitiu começar a viver só disto.” Perdão, corta. “Sobreviver”, ri-se. Para trás ficam cabines em Berlim, Londres, França, Suíça, Holanda; e outras mais perto de casa, em Lisboa, cidade onde Caroline Lethô, natural de Faro, vive desde os 21 anos. Falamos do Lounge, da Capela e principalmente da noite de 31 de Março de 2016, diz, solenemente. Foi a primeira vez que abriu a “pista do LUX”, na festa de lançamento de uma compilação de música electrónica feita apenas por mulheres portuguesas, onde Caroline marca presença com uma “doce faixa com as ondas de infusão de Londres”, descreve a editora Labareda. Tinha acabado de regressar de Oslo, onde viveu, e foi “a primeira vez” que foi paga para ser DJ, desde que começou a experimentar fazer música num computador, desde que se decidiu a estudar música electrónica na ETIC durante um ano. A partir daí, conta que as coisas “começaram a acontecer”, aparentemente por si só.
É uma das estudantes escolhidas para a edição de 2018 da academia de música da Red Bull, que celebra o vigésimo aniversário este ano. No final do Verão, parte para Berlim, onde ficará durante dois meses, de Setembro a Outubro, partilhando a carteira (ou a mesa de mistura) com um outro português, Carga Aérea. “Estar atrás da cabine, a seleccionar música que faz com que as pessoas se sintam livres para dançarem, para se divertirem, para serem quem são ou quem querem ser, é muito motivante.” É um “processo de libertação”. E ela só quer ver as “máscaras” a cair.
Caroline Lethô é a primeira protagonista da série Sub-30, em que o P3 vai dar a conhecer jovens músicos portugueses.